quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Slam - Minha Vivência

 Slam - Minha Vivência

(1º Slam do Parigot realizado em 23/08/2022)

Depois de quase dois anos em casa, reclusa por causa da pandemia combinada com problemas de saúde, as tão faladas comorbidades, fiquei em tele trabalho, sem o contato direto com a escola e com os estudantes. Desde o final de 2021 voltei para a escola, mas ainda cheia de receios, muita máscara e álcool gel, distanciamento e paranóia. Até que veio e quarta dose da vacina e um pouco mais de tranquilidade.
É provavel que o parágrafo anterior não explique nada para algumas pessoas, mas para mim traz o quanto foi difícil estar afastada da vida em comunidade e aumenta a alegria da retomada do contato diário com os estudantes e com os eventos escolares.
Desde 2018 tive um contato mais próximo com o Slam, no caso com uma apresentação do Slam da Guilhermina que aconteceu na escola estadual Reverendo Urbano, a atividade fazia parte do Festival do Livro de São Miguel organizado pela Fundação Tide Setubal. Foi uma experiência poderosa com a palavra, com os efeitos que os versos causaram nos jovens, com o brilho nos olhos.
Somente agora em 2022 tive a oportunidade de vivenciar novamente essa experiência. Dessa vez organizando e orientando os estudantes da escola estadual Pedro Viriato Parigot a fazer o nosso próprio Slam.
A Raquel, estudante do 9º ano, enviou uma mensagem para a vice diretora da escola pedindo para que nos inscrevessemos no Slam Interescolar. A Vice diretora perguntou se eu poderia fazer isso e eu disse que sim, era essa a minha intenção mesmo e já iria falar com ela sobre isso. Quando a ideia parte dos estudantes tudo fica mais fácil de organizar, de contar com a colaboração de todos na escola etc.
Fui lá, fiz a inscrição e em maio fui participar da oficina de formação com o Slam da Guilhermina, organizadores do Interescolar. Anos depois, reencontrando uma galera cheia de energia, que acredita no poder da cultura, da palavra, das pessoas. Foi muito bom estar ali no Instituto Singularidades ao lado da Cristina, Emersom, Chapéu, Legant e Amora.
Cara, o livro do Slam da Guilhermina, que conta a experiência com o Slam Interescolar, com o título Das Ruas Para as Escolas, das Escolas Para as Ruas, ganhou o prêmio Jabuti de fomento à leitura de 2021. Muito massa nossa cultura da periferia conquistar esse espaço, mas os perrengues e os corres pra conseguir patrocínio continuam!
A proposta do Interescolar é fazer um Slam em cada escola, com a organização dos professores, depois o campeão ou campeã da escola vai disputar com os campeões das outras escolas, esse ano foram mais de 200 escolas inscritas, e a terceira parte é a grande final, que será dia 8/11 no Teatro Sérgio Cardoso.
Oficina realizada, chegou a hora de fazer o Slam acontecer na escola. Bora colocar a mão na massa! Cheia de receios por nunca ter feito nada desse tamanho, mas segui em frente com medo mesmo. Bati uma papo com as 15 turmas da escola, uma de cada vez claro! Expliquei o que é Slam, suas regras, como funciona e o mais importante, pra mim pelo menos, deixei isso claro para eles, tinha que ser um evento divertido, cheio de energia, para celebrarmos a palavra, o direito de nos expressarmos.
Fiquei na dúvida se iriam aparecer estudantes dispostos a escrever poemas autorais e ainda declarmar na frente da escola toda. Pois me surprendi mesmo, foram quase 50 inscristos! Alguns não conseguiram, escreveram, mas não conseguiram declamar, travaram na escrita, mas muitos foram em frente e no dia do Slam 30 estudantes conseguiram declamar suas poesias. Foi lindo!
Antes do Slam acontecer os estudantes participaram de aulas de leitura em que puderam assistir performances gravadas dos competidores dos Interescolares anteriores, esse conteúdo está todo no YouTube do Slam da Guilhermina, além de participarem de várias aulas de leituras de poemas de diversos poetas, sem esquecer, é claro, da poesia periférica ou marginal, levei meus livros do Sergio Vaz, Raquel Almeida, Marcio Vidal Marinho, Jéssica Marcele, Jack Alves, Andrio Candido, Sarau dos Mesquiteiros, Slam Fluxo e do próprio Slam da Guilhermina. Infelizmente a escola ainda não tem muitos desses livros.
Na proposta do Interescolar também constava a visita de um poeta formador. Tivemos o prazer de conhecer o poeta e cantor Clamant. A oficina poética foi linda, os jovens ficaram encantados, hipnotizados com as palavras do poeta.

(Oficina poética com o poeta Clamant em 28/07)

Depois da oficina com o Clamant aconteceu uma coisa mágica, uma coisa muito especial. Tivemos a honra de receber o Slam Astro que realizou uma oficina poética em nossa escola. O poeta Julian, que foi estudante da nossa escola até 2020, era meu convidado para participar do nosso Slam e ele e a Prof. Bruna tiveram a ideia de fazer essa oficina poetica com a gente. Eu já disse que essas experiências são potentes, afetivas, mas não tinha ideia que seria tanto. Foi uma tarde maravilhosa e a Prof. Bruna fez uma demonstração de como seria no dia do Slam pra valer, nossos estudantes, que já estavam com os poemas prontos, declamaram. Como ainda não havíamos criado o nosso grito de paz usamos emprestado o grito do Slam Astro e a energia dos gritos e das palmas envolveu a escola inteira.

(Oficina poética com o Slam Astro em 12/08)

No dia 23/08 realizamos o 1º Slam do Parigot! Foram duas etapas, na primeira todos os 30 estudates/poetas declamaram seus poemas e foram avaliados por 5 jurados. Foi um evento restrito aos participantes, mas já contávamos com o nosso grito de paz: "Jovens poetas em ação - vai Parigot nos dê inspiração". Dessa primeira etapa saíram 5 poetas com maiores pontuações e partimos para a segunda etapa, essa contando com a participação da escola interira como público. Foi mágico! 
Tivemos o privilégio de ter na abertura a Prof. Arlete cantando uma canção, a Prof. Daiana declamando um cordel sobre nosso Slam, nossos ex estudantes Manuela e Juliam declamando poesias e compondo o jurí.
As três vencedoras foram: 1º lugar Raquel, 2º lugar Isabele e 3º lugar Giovana. Parabéns meninas, foi lindo demais!

Pra terminar essa conversa vou deixar registrado aqui o poema que escrevi após ser desafiada pela Prof. Aline. Aceitei o desafio né, já que eu estava incentivando a escola inteira a escrever!

Existimos, a que será que se destina? 

Nos perguntou Caetano Veloso de luto pelo amigo perdido pra tristeza.

Existimos, a que será que se destina?

Existimos mulheres, pra gerar, pra parir, pra cultivar a beleza

Existimos professoras, trabalhadoras, cidadãs, 

lutando contra as injustiças

lutando por garantia de direitos.

Empenhadas em multiplicar a gentileza.

Existimos como “Inspiração para aqueles que estão tentando subir

Dando a mão praquele que não se deixa cair”

Mas a resposta certa, única, não existe

Ela é individual, cada um vai construindo seu caminho a medida que caminha

Posso dizer de mim

A minha existência se destina a ser uma mulher, mãe, filha, professora, feminista, 

que acredita no poder da educação, da beleza das coisas simples, da poesia, 

da amizade, da gentileza, do amor empregado em cada gesto.

Vou existindo, tentando plantar flores e remover as pedras do caminho, seguindo os passos de Cora Coralina.

Tentando não ser máquina ao ouvir Alice Ruiz

Aprendendo a lição de Sergio Vaz: Educador é aquele que confecciona asas. E voa junto.

Repetindo os versos de Lourena: “Meus olhos se abriram nesse caos

E meu corpo é fechado para todo mal

Manter fé no que não se vê

Seguir a caminhada, seja o que Deus quiser”