sábado, 9 de setembro de 2017

Resenha do filme Narradores de Javé e a relação com a EJA - Educação de Jovens e Adultos

Resenha do filme Narradores de Javé e a relação com a EJA - Educação de Jovens e Adultos


O filme Narradores de Javé foi produzido no ano de 2003, dirigido por Eliane Caffé e roteirizado por ela em parceria com Luís Alberto de Abreu. Após seu lançamento comercial o filme ganhou nove prêmios no Festival de Recife (incluindo melhor filme e direção), foi escolhido como o melhor filme no Festival Rio BR 2003 e ainda ganhou o prêmio da crítica no Festival de Fribourg, na Suíça.
O filme conta a história da fictícia cidade de Javé e de como ela se transformou em uma represa. Javé é uma típica cidade do interior do sertão brasileiro, abandonada pelo poder público no que concerne ao acesso aos direitos fundamentais de educação, cultura, trabalho e lazer. Quando os habitantes são informados de que a cidade será desocupada para que aquele lugar se torne uma represa a indignação é geral, porém um morador consegue enxergar uma possível saída, provar que a cidade é um patrimônio cultural, desde que isso fosse feito por meio de um documento científico que comprovasse a importância, o valor daquele lugar.
A solução encontrada gera outro problema, quem poderia escrever a história do lugar se todos os moradores eram analfabetos? A única pessoa capaz de executar tal trabalho era também o desafeto da cidade, o antigo funcionário dos Correios Antonio Biá. Biá havia cultivado um grande número de desafetos quando na tentativa de salvar o próprio emprego começou a trocar cartas com habitantes de outras cidades, inventando histórias e se passando pelos moradores de Javé, segundo informações do site Cineduc, essa parte da história foi inspirada por fatos reais vividos por um funcionário dos Correios da cidade de Vau, no interior do Estado de Minas Gerais e confidenciados à diretora e roteirista do filme Eliane Caffé.
Provavelmente no dia a dia, nas atividades desenvolvidas na cidade por seus habitantes e antepassados a escrita não tenha se mostrado de grande importância, porém quando se viram sendo subjugados pelo progresso, pelos valores de uma sociedade da qual estão à margem, começaram a perceber que a escrita, que o conhecimento formal e científico, de alguma forma, estava fazendo falta e colocando-os em posição contrária a seus desejos e hábitos.
O conhecimento transmitido oralmente, até então, tinha sido suficiente para aquelas pessoas, os ensinamentos e histórias da fundação da cidade e da organização das famílias eram transmitidos geração após geração pela oralidade. Essa fórmula foi possível no Brasil por muitos séculos devido a grande extensão de seu território e ao esquecimento do poder público em relação às populações de pequenas cidade e povoados, porém após a industrialização do país esse cenário começou a mudar, na maioria das vezes por interesse do capital, na busca por maximização dos lucros e formação de mercados consumidores. Por outro lado, esse progresso pode trazer para essas populações maior acesso à educação, bens culturais, serviços de saúde, inclusão na sociedade do conhecimento e da informação da qual encontram-se à parte. Por esses motivos a EJA Educação de Jovens e Adultos é importante instrumento de inclusão social, proporcionando aos cidadãos acesso à educação formal, ao mundo do conhecimento.
Em relação a fala de Antônio Biá quando diz: "Vocês acham que escrever essas histórias vai parar a represa? Não vai não. E sabe por quê? Porque Javé é um buraco perdido no oco do mundo. E daí que Javé nasceu de uma gente guerreira, dionisíaca? Se hoje esse é um lugar miserável, com gosto e cor de terra, de gente pocada, ignorante, como eu, como vocês tudinho! O que nós somos é só um povinho ignorante que não sabe escrever o próprio nome, mas inventa histórias de grandeza pra esquecer a vidinha rala, sem futuro nenhum. Vocês acham que os engenheiros vão parar a represa e o progresso por um bando de semianalfabeto? Não! Isso é fato. Isso é científico (ABREU E CAFFÉ, 2004, p.161). Trata-se de uma constatação bastante realista do personagem sobre a sorte da cidade e de seus habitantes. É realmente muito difícil ir contra uma decisão tomada por altas instâncias do poder instituído. Para lutar contra essa força invisível, mas sentida no cotidiano da população, é necessário muita mobilização, conhecimento e poder político. A população consegue realizar algumas mudanças estruturais na sociedade, porém é necessário um enorme engajamento e mobilização, como no caso das “Diretas Já” ou na instituição da lei da “Ficha limpa”, mas ainda assim é preciso que forças políticas institucionalizadas apoiem as causas populares.


REFERÊNCIAS
Cineclick - Tudo sobre cinema. Disponível em: https://www.cineclick.com.br/criticas/narradores-de-jave. Acessado em 09 de setembro de 2017.
Cineduc - Cinema e Educação. Disponível em: http://www.cineduc.org.br/cineaula---narradores-de-jave.html. Acessado em 09 de setembro de 2017.

Obs: Texto escrito originalmente para uma atividade do curso de graduação em Pedagogia Interdisciplinar da Uniceu São Camilo.

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