Os Meninos da Rua Paulo
Desde 2024 a Secretaria da Educação de SP disponibilizou aos estudantes a plataforma Leia SP para a leitura de livros de literatura. No primeiro bimestre de 2025 os estudantes dos 9º anos A e B leram Os Meninos da Rua Paulo. Com o objetivo de incentivar os estudantes a lerem o livro a Sala de Leitura da escola PEI Pedro Viriato Parigot de Souza fez uma pesquisa para trazer mais informações sobre a obra, além disso aconteceu um bate papo com as turmas ao final da leitura.
A história contada por Ferenc Molnár (Hungria 1978, falecido em Nova York 1952) se passa em 1889 (essa data aparece na página 97 da edição de 2008 da Editora Cosac Naif), mas há uma referência à guerra russo-japonesa de 1904, conforme a nota da página 76. Assim, podemos concluir que o período em que se passa a história está um tanto nebuloso.
O livro foi publicado em 1907 e só chegou ao Brasil em 1952, traduzido por Paulo Rónei, que, assim como Ferenc, era um judeu hungaro. Paulo conseguiu fugir de seu país em 1940 com ajuda do consulado brasileiro. Ele era estudioso de línguas e literaturas latinas, constituiu família no Brasil, país em que permaneceu até sua morte em 1992. Aurélio Buarque de Holanda (primo de 2º grau de Chico Buarque de Holanda), um dos mais importantes lexicógrafos brasileiros, foi o revisor do livro. Ambos também foram responsáveis por organizar a importante antologia de contos do mundo Mar de Histórias lançada na década de 1940.
Ferenc Molnár emigrou para os EUA em 1939 para escapar da perseguição dos nazistas aos judeus húngaros, faleceu em 1952 em Nova York sem ter retornado à Europa.
Curiosidade: Renato Russo declarou numa entrevista, concedida ao músico Leone, que o narrador da música Andrea Dória, letra que representa um diálogo, poderia ter sido dita pelo personagem Nemecsek do livro Os Meninos da Rua Paulo, a letra da música carrega os anseios da juventude em querer mudar o mundo e se dá conta do quão difícil isso é. “Ele é um jovem que acredita na virtude, em fazer as coisas corretamente de acordo com as regras e fica batendo contra a parede porque esse mundo não funciona” declarou Renato Russo. Confira a música no vídeo ao vivo da banda Legião Urbana.
Os meninos da Rua Paulo se organizavam na Sociedade do Betume, que tinha estatuto (conjunto de leis), presidente, realizava assembleias registradas em atas, todas as formalidades conhecidas por eles. Mais uma curiosidade: Betume é a mesma coisa que massa de vidraceiro e o modo como os meninos a mantinham úmida é no mínimo estranho! A Sociedade era bastante burocrática, por esse motivo houve um grande estranhamento com a necessidade de urgência nas decisões em razão da guerra. O fato de um membro deposto pela sociedade ter uma patente militar de destaque causou grande comoção entre os membros da sociedade.
Guerra? Que guerra? A guerra pelo grund, pelo espaço para jogar pela (uma espécie de jogo de tênis ou taco) com os garotos de outro grupo, os camisas vermelhas.
Os meninos faziam brincadeiras militares, se davam patentes, construiram fortes, fizeram um plano de guerra, como é possível confirmar na página 135.
O narrador é em 3ª pessoa, porém ele se coloca na história, como fica evidente nas páginas 37 e 187, dizem que Ferenc foi um dos meninos da Rua Paulo, não temos como confirmar essa informação, mas isso seria bem bacana, pois seria um relato memoríalistico de um membro de uma sociedadem de uma infância que não existem mais.
Valores como honra, amizade, coragem, organização são muito valorizados pelos meninos, além de norteiaarem as suas ações. Isso é tão importante que a hora do combate e as regras são combinadas previamente entre os oponentes. Como fica evidente no trecho abaixo:
- Não queremos supreender o adversário. Viremos amanhã às duas e meia em ponto. Era o que tínhamos para dizer, e pedimos resposta.
Boka sentia a importância do momento, e replicou com a voz algo trêmula:
- A declaração de guerra está aceita. Mas temos de combinar uma coisa: não quero que a batalha degenere em briga vulgar. (p. 170)
A questão da traição é muito marcante, os meninos prezam pela honra e pela correção nas atitudes. A honra também é muito importante para o pai de um dos meninos, o traidor (alerta de spoiler!) Géreb. O pequeno Nemecsek não conta a traição ao pai do menino, ele achava que seria uma dor imensa saber que o filho agiu sem honra. O mesmo Nemecsek fica extremamente triste com a atitude dos membros da Sociedade do Betume em escrever seu nome com todas as letras minúsculas, isso era considerado desonroso.
A amizade entre os meninos é o tema central da história, a organização e a preocupação com a honra são muito evidentes, mas no fim eles queriam brincar e estar juntos. Um acontecimento abala os meninos, principalmente o líder deles João Boka, não vamos dar spoiler agora, pois se trata de uma passagem comovente, mas podemos afirmar que a dificuldade poderia ter sido resolvida com um simples antibiótico. Simples para nós no séculos XXI, mas impossível na época dessa história.
Por esse motivo, vamos trazer mais uma curiosidade: Os antibióticos foram descobertos em 1928 (penicilina por Alexander Fleming/Inglaterra). As pesquisas em humanos se intensificaram em 1939 em decorrência da 2ª Guerra Mundial (1939 a 1945). Em 1940 pesquisadores de Oxford conseguiram produzir penicilina para fins terapêuticos.
A literatura nos permite conhecer lugares, tempos e costumes diferentes. Dessa vez viajamos para a Hungria do final do século XIX e conseguimos conhecer um pouco desse lugar tão distante de nós. Permitam-se!
Boa leitura!
Outras Informações:
Resenha de Tatiana Feltrin: https://www.youtube.com/watch?v=hg4T_K4DmSE
Resenha de Gabriela Pedrão: https://www.youtube.com/watch?v=XNxE3lgoF8o
Resenha de Humberto Conzo: https://www.youtube.com/watch?v=eqv96Doc9C8
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