quinta-feira, 3 de outubro de 2013

HUMANISMO



Contexto Histórico Social


Chamou-se humanismo o movimento cultural iniciado na Itália e que se espalhou pela Europa, no período que corresponde à transição da Idade Média à Idade Moderna.
Em Portugal, a Revolução de Avis (1383-1385), com a aclamação de D.João, o Mestre de Avis, aliado aos burgueses, proporcionou a expansão ultramarina. A partir da Tomada de Ceuta em 1415, os navegantes portugueses chegaram à África, à Ásia e à América. Essa nova realidade mercantil provocou uma crise no sistema feudal e no pensamento religioso, que levou o teocentrismo a ceder seu lugar ao antropocentrismo, isto é, o ser humano no centro da vida humana. Essa nova visão refletiu-se nas grandes obras do período, que tinham como centro de interesse o próprio ser humano.
Entre os fatores que contribuíram para tal mudança podemos apontar:
a) A ampliação do mundo conhecido através das grandes navegações;
b) A ascensão da burguesia voltada para o comércio e para a vida material;
c) A invenção dos tipos móveis na imprensa por Gutenberg, que facilitou a divulgação das obras clássicas, até então copiadas a mão, pelos monges nos mosteiros.
As manifestações literárias mais significativas do período humanista em Portugal foram:
• Na historiografia – as obras de Fernão Lopes, Gomes Eanes de Azurara e Rui de Pina.
• Na poesia – as obras de João Ruiz de Castelo Branco.
• No teatro – as obras de Gil Vicente.

Fernão Lopes pode ser considerado o criador da historiografia em Portugal. Em 1418, foi nomeado arquivista oficial da Torre do Tombo, onde são guardados os documentos históricos do país. Em 1434, foi promovido a cronista-mor, passando a escrever a história dos reis de Portugal. Embora tivesse de centralizar sua crônica nos reis, teve o mérito de investigar as relações sociais que movimentavam o país, além de captar o sentimento coletivo do povo português. Devido ao posto que ocupava na Torre do Tombo, pôde fundamentar suas ideias com documentos escritos, o que constitui uma das bases da historiografia moderna. Suas principais obras são: Crônica de D. Pedro, Crônica de D. Fernando e Crônica de D. João I.

Gil Vicente                




Quando se fala em Gil Vicente, é preciso, antes entender o que são autos. Auto é o nome genérico dos textos poéticos da Idade Média, usados nas representações teatrais, carregados de religiosidade. No teatro vicentino vamos encontrar uma grande produção de autos, dos quais muitos deles, além de religiosidade, apresentam temas profanos e satíricos.
Gil Vicente é considerado o criador do teatro popular em Portugal. Sua primeira apresentação, em 1502, foi o Auto do vaqueiro ou o Auto da visitação, dedicada ao filho recém-nascido do rei D. Manuel, no quarto de D. Maria, esposa do rei. A peça fez tanto sucesso que o levou a elaborar outras, igualmente cheias de êxito. O teatro de Gil Vivente baseia-se principalmente na sátira (as farsas), que ele utilizava para criticar e denunciar os erros, a corrupção e a falsidade de todas as camadas sociais: da nobreza, do povo e do clero – apesar de ser uma pessoa profundamente religiosa.
Gil Vicente era autor e ator e suas representações, cheias de improvisos já previstos. Sua obra é rica, densa e variada. Sua produção contém 44 obras e sua galeria de tipos humanos é imensa: o padre corrupto, o cardeal ganancioso, o sapateiro que explora o povo, a beata, o médico incompetente, os aristocratas decadentes etc. Seus personagens não têm nome – são sempre designados pela profissão, assim registrando os tipos sociais que faziam parte da sociedade da época.
Apesar de subvencionado pelo rei, Gil Vicente nunca se deixou intimidar, expressando o que realmente pensava e tecendo suas críticas com independência de espírito. O teatro era sua arma de combate e de denúncia contra a imoralidade. Sua linguagem, bastante simples, espontânea e fluente. Assim como os cenários e as montagens.
Suas principais obras são: Auto da visitação, Trilogia das barcas (Auto da barca do inferno, Auto da barca do purgatório, Auto da barca da glória), Auto da alma, Farsa de Inês Pereira, Juiz da beira, Auto da feira, Quem tem farelos?, Auto da Lusitânia, Auto da índia e Floresta de enganos (sua última peça).

Auto da barca do inferno: o julgamento da sociedade portuguesa


Das muitas peças de Gil Vicente, merece destaque o Auto da barca do inferno, em que a crítica social, marcada pela sátira, é impiedosa.
Nesse auto, vemos os mortos chegando para embarcar rumo ao inferno ou ao paraíso. Esperam por eles, na margem do rio, um anjo, que conduz a barca do paraíso, e um diabo, que conduz a barca do inferno.
Todos acham que merecem o paraíso, discutindo com o Diabo e o Anjo. O Fidalgo, aristocrata arrogante e explorador, e o Onzeineiro (11% de juros no empréstimo, taxa exorbitante para a época), agiota, vão na barca do inferno; assim como o sapateiro desonesto, o Frade corrupto, a Alcoviteira cafetina, o Judeu (refletindo o preconceito da época), o Corregedor e o Procurador corruptos da justiça, o Enforcado de corda no pescoço. Quem vai na barca do céu? O Parvo, o bobo sem malícia, e os quatro cavaleiros cruzados, mortos em batalha, que encerram desse modo o auto.

Leia, a seguir, um trecho do episódio do Fidalgo.
Diabo     Em que esperas ter guarida? (proteção)
Fidalgo   Que deixo na outra vida
                Quem reze sempre por mim.
Diabo     Quem reze sempre por ti?...
                Hi –hi-hi-hi-hi-hi-hi!...
                E tu viveste a teu prazer,
                Cuidando cá guarecer (salvar-te)
                Porque rezam lá por ti?
                Embarca! – ou embarcai,
                Que haveis de ir à derradeira. (afinal)
                Mandai meter a cadeira,
                Que assim passou vosso pai.
Fidalgo   Quê? Quê? Quê? Assim lhe vai?
[...]
(Fonte: Curso Completo de Português. São Paulo: Ibep.)

Tudo o que é sólido pode derreter


Esse programa da TV Cultura retrata a rotina de uma escola pública e seus alunos do ensino médio. Cada episódio tem como pano de fundo uma obra clássica da literatura de língua portuguesa.
Confiram o primeiro episódio da séria que se baseia no Auto da barca do inferno.

Sinopse: É o primeiro dia de aula e Thereza está em território inédito na escola, começando o 1º colegial e sentindo-se em uma nova fase. Há alunos recém-chegados e uma sensação de amadurecimento. Em aula, surge uma atividade baseada na obra Auto da Barca do Inferno, o que faz Thereza prestar atenção nas pessoas a sua volta e imaginar que destino elas teriam se fossem personagens do livro. Em casa, esquece o aniversário de sua mãe. Na escola, conhece Marcos e inicia uma amizade com ele.





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