HUMANISMO
Contexto Histórico Social
Chamou-se humanismo o movimento cultural iniciado na
Itália e que se espalhou pela Europa, no período que corresponde à transição da
Idade Média à Idade Moderna.
Em Portugal, a Revolução de Avis (1383-1385), com a
aclamação de D.João, o Mestre de Avis, aliado aos burgueses, proporcionou a
expansão ultramarina. A partir da Tomada de Ceuta em 1415, os navegantes
portugueses chegaram à África, à Ásia e à América. Essa nova realidade
mercantil provocou uma crise no sistema feudal e no pensamento religioso, que
levou o teocentrismo a ceder seu lugar ao antropocentrismo, isto é, o ser
humano no centro da vida humana. Essa nova visão refletiu-se nas grandes obras
do período, que tinham como centro de interesse o próprio ser humano.
Entre os fatores que contribuíram para tal mudança
podemos apontar:
a) A ampliação do
mundo conhecido através das grandes navegações;
b) A ascensão da
burguesia voltada para o comércio e para a vida material;
c) A invenção dos
tipos móveis na imprensa por Gutenberg, que facilitou a divulgação das obras
clássicas, até então copiadas a mão, pelos monges nos mosteiros.
As manifestações literárias mais significativas do
período humanista em Portugal foram:
•
Na historiografia – as obras de Fernão Lopes, Gomes Eanes de Azurara e Rui de
Pina.
•
Na poesia – as obras de João Ruiz de Castelo Branco.
•
No teatro – as obras de Gil Vicente.
Fernão Lopes pode ser considerado o criador da
historiografia em Portugal. Em 1418, foi nomeado arquivista oficial da Torre do
Tombo, onde são guardados os documentos históricos do país. Em 1434, foi
promovido a cronista-mor, passando a escrever a história dos reis de Portugal.
Embora tivesse de centralizar sua crônica nos reis, teve o mérito de investigar
as relações sociais que movimentavam o país, além de captar o sentimento
coletivo do povo português. Devido ao posto que ocupava na Torre do Tombo, pôde
fundamentar suas ideias com documentos escritos, o que constitui uma das bases
da historiografia moderna. Suas principais obras são: Crônica de D. Pedro,
Crônica de D. Fernando e Crônica de D. João I.
Gil Vicente
Quando se fala em Gil Vicente, é preciso, antes
entender o que são autos. Auto é o
nome genérico dos textos poéticos da Idade Média, usados nas representações
teatrais, carregados de religiosidade. No teatro vicentino vamos encontrar uma
grande produção de autos, dos quais muitos deles, além de religiosidade,
apresentam temas profanos e satíricos.
Gil Vicente é considerado o criador do teatro popular
em Portugal. Sua primeira apresentação, em 1502, foi o Auto do vaqueiro ou o
Auto da visitação, dedicada ao filho recém-nascido do rei D. Manuel, no quarto
de D. Maria, esposa do rei. A peça fez tanto sucesso que o levou a elaborar
outras, igualmente cheias de êxito. O teatro de Gil Vivente baseia-se
principalmente na sátira (as farsas), que ele utilizava para criticar e
denunciar os erros, a corrupção e a falsidade de todas as camadas sociais: da
nobreza, do povo e do clero – apesar de ser uma pessoa profundamente religiosa.
Gil Vicente era autor e ator e suas representações,
cheias de improvisos já previstos. Sua obra é rica, densa e variada. Sua
produção contém 44 obras e sua galeria de tipos humanos é imensa: o padre
corrupto, o cardeal ganancioso, o sapateiro que explora o povo, a beata, o
médico incompetente, os aristocratas decadentes etc. Seus personagens não têm
nome – são sempre designados pela profissão, assim registrando os tipos sociais
que faziam parte da sociedade da época.
Apesar de subvencionado pelo rei, Gil Vicente nunca se
deixou intimidar, expressando o que realmente pensava e tecendo suas críticas
com independência de espírito. O teatro era sua arma de combate e de denúncia
contra a imoralidade. Sua linguagem, bastante simples, espontânea e fluente.
Assim como os cenários e as montagens.
Suas principais obras são: Auto da visitação, Trilogia
das barcas (Auto da barca do inferno, Auto da barca do purgatório, Auto da
barca da glória), Auto da alma, Farsa de Inês Pereira, Juiz da beira, Auto da
feira, Quem tem farelos?, Auto da Lusitânia, Auto da índia e Floresta de
enganos (sua última peça).
Auto da barca do inferno: o julgamento da sociedade portuguesa
Das muitas peças de Gil Vicente, merece destaque o Auto da barca do inferno, em que a
crítica social, marcada pela sátira, é impiedosa.
Nesse auto, vemos os mortos chegando para embarcar
rumo ao inferno ou ao paraíso. Esperam por eles, na margem do rio, um anjo, que
conduz a barca do paraíso, e um diabo, que conduz a barca do inferno.
Todos acham que merecem o paraíso, discutindo com o
Diabo e o Anjo. O Fidalgo, aristocrata arrogante e explorador, e o Onzeineiro
(11% de juros no empréstimo, taxa exorbitante para a época), agiota, vão na
barca do inferno; assim como o sapateiro desonesto, o Frade corrupto, a
Alcoviteira cafetina, o Judeu (refletindo o preconceito da época), o Corregedor
e o Procurador corruptos da justiça, o Enforcado de corda no pescoço. Quem vai
na barca do céu? O Parvo, o bobo sem malícia, e os quatro cavaleiros cruzados,
mortos em batalha, que encerram desse modo o auto.
Leia, a seguir, um trecho do episódio do Fidalgo.
Diabo Em que esperas ter guarida?
(proteção)
Fidalgo Que deixo na outra vida
Quem reze sempre por mim.
Diabo Quem reze sempre por ti?...
Hi –hi-hi-hi-hi-hi-hi!...
E tu viveste a
teu prazer,
Cuidando cá guarecer
(salvar-te)
Porque rezam lá por ti?
Embarca! – ou embarcai,
Que haveis de ir à derradeira.
(afinal)
Mandai meter a cadeira,
Que assim passou vosso pai.
Fidalgo Quê? Quê? Quê? Assim lhe vai?
[...]
(Fonte: Curso Completo de Português. São Paulo: Ibep.)
(Fonte: Curso Completo de Português. São Paulo: Ibep.)
Tudo o que é sólido pode derreter
Esse programa da TV Cultura retrata a rotina de uma escola pública e seus alunos do ensino médio. Cada episódio tem como pano de fundo uma obra clássica da literatura de língua portuguesa.
Confiram o primeiro episódio da séria que se baseia no Auto da barca do inferno.
Sinopse: É o primeiro dia de aula e Thereza está em território inédito na escola, começando o 1º colegial e sentindo-se em uma nova fase. Há alunos recém-chegados e uma sensação de amadurecimento. Em aula, surge uma atividade baseada na obra Auto da Barca do Inferno, o que faz Thereza prestar atenção nas pessoas a sua volta e imaginar que destino elas teriam se fossem personagens do livro. Em casa, esquece o aniversário de sua mãe. Na escola, conhece Marcos e inicia uma amizade com ele.
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